Caindo da Bicicleta

A situação ficou ainda mais difícil para as empresas de factoring após o anúncio da crise.  Como advogado de empresas de factoring, tenho visto vários cedentes considerados grandes, que operavam quantias significativas sem problemas, pedirem recuperação judicial.  

Mas, o que está acontecendo com esses clientes?

Eles estão caindo da bicicleta.

São clientes que passaram a viver do dinheiro de bancos e factorings para pagar suas contas. Empresas que já não tinham mais fluxo de caixa sustentável, que viviam de realizar empréstimo ou antecipar créditos para pagarem suas contas e dívidas anteriores.  Com a redução de crédito pelos bancos, essas empresas não tiveram mais de onde tirar dinheiro para saldar suas operações vencidas com os próprios bancos, e quebraram.

Quando você anda de bicicleta, se a bicicleta parar, você cai.  Foi o que aconteceu com essas empresas.  Elas vinham pedalando com o dinheiro dos bancos, fazendo novos empréstimos para saldar os empréstimos vencidos.  Com a crise, os bancos se negaram a realizar novos empréstimos e cobraram o pagamento dos vencidos.  Sem conseguir novos empréstimos, sem dinheiro para pagar, essas empresas pararam de pedalar e caíram.

De três formas as factorings sofrem com essa queda: Primeiro, no caso de a empresa cedente ser séria, ela vai encerrar suas atividades, pois não consegue continuar funcionando sem o empréstimo do banco.  A empresa fechada é um cliente a menos para a factoring.  Segundo, se o cedente não emitia títulos frios, com a crise, muda de postura e passa a fraudar vendas para saldar suas dívidas e continuar funcionando.  A empresa vai emitir títulos frios e vender o crédito para a factoring, obviamente estes títulos não serão pagos pelos sacados, e tão pouco pelo cedente, que já está afogada em dívidas.  Terceiro, se a empresa cedente já não era séria, costumava emitir diversos títulos frios e recomprá-los nos vencimentos, com a crise e o corte de crédito dos bancos, não terão mais de onde tirar dinheiro para recomprar os títulos, e com isso, a factoring vai ficar no prejuízo.

O que é preciso fazer para evitar ser lesado por empresas que estão em cima da bicicleta?

No primeiro caso, de empresas sérias, a factoring não sofrerá prejuízo, pois os títulos serão pagos pelos sacados.  No terceiro caso, de empresas que já não eram sérias e os títulos que a factoring tem nas mãos são frios, tem que se correr atrás do prejuízo, mover todas as ações para tentar reaver o valor dos títulos, e ações criminais para tentar punir os criminosos.

O mais importante a ser analisado, porém, é o segundo caso, de empresas que só eram sérias até a crise, e que mudam de postura, passando a emitir títulos frios mediante a ausência de crédito com os bancos. 

Sempre aconselhamos que o operador e o analista de crédito de uma factoring devem ser desconfiados.  Por quê nesse momento de crise, a desconfiança deve ser ainda maior.  Desconfie de todos.  O primeiro passo é analisar todos os cedentes, verificar os que possuem alta movimentação com bancos, e tomar ainda mais cuidado com eles, pois são os que mais estão sofrendo com a crise.  Segundo, a análise dos títulos tem que ser ainda mais rigorosa, a confirmação dos sacados deve ser realizada por escrito e assinada por representante da empresa.  Terceiro, é preciso se aprofundar mais na contabilidade do cliente, verificar se o recurso que está sendo pago pela factoring será utilizado para o funcionamento da empresa ou apenas para pagamento de contas, pois como tentaremos demonstrar num próximo artigo, o cliente que utiliza o crédito da factoring para pagar dívidas será um cliente problema no futuro.

Concluindo, observa-se que dessa forma, inevitavelmente, os que vão andando na bicicleta vão cair quando a bicicleta parar.  Para as factorings, resta operar de forma correta, ter mais rigor na análise do crédito e conhecer bem o cliente, para não cair junto.
 

Armando Lemos Wallach

Armando Lemos Wallach

Advogado Especializado em Fomento Mercantil
Escritório em Recife-PE
armando@wallach.adv.br 
www.wallach.adv.br