Economia

Impeachment melhora a confiança, mas cautela de bancos limita a oferta

São Paulo - A decisão sobre o impeachment na próxima semana poderá trazer maior confiança na tomada de crédito. Cautela e rigor dos bancos, no entanto, ainda devem se estender até o ano que vem e prejudicar a oferta de recursos para pessoas físicas e jurídicas.

Por outro lado, a expectativa dos especialistas é que além dos índices de confiança, a resolução sobre o governo federal também traga um fôlego maior para a política monetária conseguir reduzir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic.

De acordo com Lenon Borges, analista da Ativa Investimentos, com o ambiente de maior risco de calotes em meio ao avanço do desemprego, com empréstimo mais seletivo e uma "política fiscal brasileira desajustada", os juros das instituições financeiras estão altos e crescentes.

Segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), as taxas de juros do sistema financeiro subiram 4,6 pontos percentuais em 12 meses até julho, para 33%, mesmo com a Selic mantida em 14,25%, no último ano.

"Os juros estão altos para reduzir a inflação, mas esse controle não deveria ser feito apenas pela política monetária, mas pela fiscal também. O alívio pode, sim, vir conforme o desenrolar político e aceitação do Congresso sobre os ajustes fiscais, mas o crédito ainda demora um pouco para retomar", ressaltou o analista.

Segundo Maurício Godói, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, entretanto, são os altos juros bancários, somados à maior seletividade para os empréstimos, que podem "atrapalhar" a retomada do crédito no País.

"Solucionar os problemas políticos com certeza já gera uma expectativa melhor, mas transformar o que se espera em realidade, é muito difícil. O ano que vem será melhor, mas não como antes", analisa.

Godói ainda destaca que a tendência é de continuidade do atual cenário até para o segundo trimestre do ano que vem. "O mercado de crédito vai continuar com juros altos e uma pressão de inadimplência", completa o economista.

"Os bancos estão com a carteira enxuta e fecham as portas do crédito, principalmente para os pequenos negócios. Essa trajetória provavelmente continua, e até mesmo para 2017 será difícil", conclui Borges.

Renegociação

Outro obstáculo para a retomada do mercado, segundo os especialistas ouvidos pelo DCI, são os "resultados mais fracos" da renegociação de dívidas.

Segundo os dados do BC, as renegociações mostraram uma retração de 9,4% em julho na comparação com junho e 20,8% no ano. O saldo do mês passado, em R$ 3,116 trilhões, teve recuo de 0,4% e de 3,2% respectivamente.

"A inadimplência tem crescido 0,1 ponto percentual mês a mês e isso impacta de alguma forma. Mostra que muitos deixam de renegociar suas dívidas, simplesmente, porque preferem pagar contas mais urgentes e, mesmo com a busca mais forte desses acordos por parte dos bancos, ficam inadimplentes", explica Godói.

Os créditos concedidos, por sua vez, mostraram queda de 11,1% em julho ante junho, com queda de 17,9% em pessoas jurídicas e de 5,6% para pessoas físicas. Nos 12 meses, a concessão total caiu 7,7%.

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/mesmo-com-confianca-maior,-restricao-ao-credito-continua-id570099.html