Economia

Inadimplência gera prejuízo de mais de R$ 105 bilhões em 2016

São Paulo - As perdas dos bancos com calotes somaram mais de R$ 105 bilhões no ano passado. Quatro dos cinco maiores, que já divulgaram os resultados completos de 2016, somaram mais de R$ 89,8 bilhões de prejuízo, alta de 19,6% em relação a 2015 (R$ 75,1 bilhões).

A somatória das perdas veio do Banco do Brasil, (R$ 31,552 bilhões em prejuízo); Bradesco (R$ 21,739 bilhões); Itaú (R$ 26,152 bilhões) e Santander Brasil (R$ 10,404 bilhões).

A Caixa Econômica Federal - única que até o fechamento dessa reportagem ainda não havia divulgado os resultados totais do ano - porém, já chegava aos R$ 15,2 bilhões no consolidado até setembro, volume que, somado aos outros quatro bancos, já chega aos R$ 105 bilhões baixados para perda.

De acordo com o analista bancário da Planner Corretora, Victor Figueiredo Martins, os bancos "não começaram o ano preparados" e tiveram que reforçar o nível de provisão e guidance ao longo de 2016.

"Muitos problemas de inadimplência entre pessoas físicas e jurídicas, principalmente nas pequenas e médias empresas, começaram a surgir dentro da carteira, pressionados por falta de liquidez e renda, desemprego e queda no consumo", identifica o especialista.

De fato, não apenas o número de desempregados chegou ao seu recorde no ano passado, com aumento de 12% e 12,3 milhões de desocupados, como também os índices de inadimplência chegaram ao maior registro em mais de dois anos, com picos de 4,3% para pessoas físicas e 3,6% para jurídicas.

Nesse cenário, apesar da influência positiva da queda na taxa básica de juros (Selic), da melhora do Produto Interno Bruto (PIB) e da redução da inflação, a expectativa é de que o desemprego - que deve alcançar seu ápice no primeiro semestre deste ano - ainda impacte os níveis de calote.

"Começamos a perceber um ponto de inflexão na carteira de varejo, mas a parte de reduzir a inadimplência, mesmo com todas as medidas dos bancos e do próprio governo, com certeza não deve se materializar no curtíssimo prazo", comenta o analista sênior da agência de classificação de riscos Fitch Ratings, Raphael Nascimento.

O executivo reforça que é exatamente pela demora de retomada no pagamento de dívidas e sobre as dúvidas da efetividade das medidas que a Fitch ainda mantém a classificação das instituições financeiras brasileiras como negativas.

"Os balanços ainda mostram provisões altas e, enquanto as variáveis macroeconômica estiverem voláteis, não vamos materializar as perspectivas como estáveis, porque isso ainda pode deixar os resultados bancários um pouco incertos", complementa Nascimento.

Sem a somatória de provisões da Caixa, os outro quatro maiores alcançaram R$ 132,5 bilhões em 2016, aumento de 14,3% frente 2015 (R$ 115,9 bilhões).

Ciclo de Renegociação

No mesmo cenário, porém os especialistas entrevistados pelo DCI afirmam que a prevenção dos bancos com provisões tende a passar por uma manutenção nos próximos meses, e que tanto positivo quanto negativo, o patamar de renegociação ainda deve ser prioridade.

"O cenário já começa a melhorar um pouco para os bancos e, eventualmente, eles devem ficar mais confortáveis para diminuir ainda mais o custo do crédito. Estávamos vendo um cenário de administração da inadimplência, e isso ainda continua em forma renegociação", diz o analista da Boanerges&Cia, Vitor França.

Além disso, o reforço para o sistema bancário também pode vir dos repasses de juros mais baixos para as linhas de crédito e das medidas de menor exposição ao rotativo, por exemplo.

"Há uma queda de preços e nos juros que acaba sendo um incentivo aos consumidores e também deve dar algum alívio para as empresas endividadas, que buscam uma forma de se reerguer", conclui França.

Da outra ponta, porém, o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch, Cláudio Gallina, pondera que parte desse "ciclo de negociação" ainda não foi precificado pelos bancos.

"Há um estoque na carteira que, movido pela renegociação de dívidas, simplesmente foi jogado para ser pago mais para frente. Em algum momento isso será testado de novo e só então os bancos vão saber se fizeram a coisa certa. É muito delicado afirmar que o período de inflexão da inadimplência está próximo", avalia o diretor.

Nessa linha de raciocínio, os últimos dados do Banco Central já apontam que os calotes de 15 a 90 dias no crédito renegociado aumentou 1,3 pontos percentuais na comparação entre janeiro e dezembro, uma variação de 14,1% para 15,4%.

O patamar é semelhante a igual mês de 2016 (15,5%), momento em que a concessão desses recursos alcançava os R$ 3 bilhões (está, atualmente, em R$ 2,17 bilhões).

"São movimentos que foram para tornar o sistema mais robusto e reforçá-lo para o futuro, mas a incerteza nos faz crer que boa vontade pode não ser suficiente para consolidar medidas e impulsionar o mercado", acrescenta Gallina, da Fitch.

Projeções

Mesmo com os "entraves", porém, as expectativas para este ano são positivas. "O patamar de provisões e perdas ainda deve ser alto, mas o pior já ficou para trás. Inclusive, com baixo crescimento da carteira e a contínua seletividade dos bancos, a diversificação das receitas deve dar gás à retomada dos lucros bancários", comenta Victor Martins, da Planner.

"A projeção é que a carteira cresça até 5% no sistema, e só em 2018 comecem a refletir os indicadores macroeconômicos", completa Nascimento.

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/em-destaque/calotes-em-bancos-somaram-r$-105-bi-no-ano-passado-id613246.html