Economia

Fintechs vão aproveitar menor custo de captação para reforçar atuação

A expectativa de que a taxa básica de juros permaneça em um dígito nos próximos dois anos impulsionará uma atuação mais forte das fintechs de crédito. Com baixo custo de captação, concorrência deve ficar acirrada e trazer maior demanda para o setor.

O último relatório Focus do Banco Central (BC) traçou uma expectativa de que a taxa básica de juros (Selic) permaneça em 6,75% em 2018 e chegue a 8% ao final de 2019.

Nesse sentido, um dos principais reflexos positivos da Selic no menor nível histórico seria a possibilidade de o sistema financeiro como um todo captar recursos mais baratos no mercado de capitais, já que a remuneração sobre essa taxa também acaba ficando mais baixa.

“É uma conta fácil e também funciona para as fintechs, cuja maioria que empresta, capta com FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios]. Se o retorno prometido é de 130% e o CDI está mais barato, o custo da companhia para captar esse recurso, cai”, explica o CEO da fintech Bom pra Crédito, Ricardo Kalichsztein.

Já segundo o sócio-fundador da BizCapital, Francisco Ferreira, o movimento impulsionará o mercado de crédito, não apenas pelo menor custo de captação, mas também pela própria concorrência que as startups financeiras tendem a trazer aos grandes bancos.

“Selic em um dígito é um sonho para nós porque reduz muito o custo de captação. Apesar das incertezas que ainda existem no País, a contínua restrição bancária traz um espaço grande de atuação para as fintechs e a perspectiva de um crescimento significativo do segmento”, comenta.

Além disso, a perspectiva de que os empréstimos dos bancos – apesar de crescentes – continuem caros e cautelosos, ante o cenário doméstico, também é vista com bons olhos pelas startups financeiras.

“O spread vai continuar alto até que o ambiente melhore e, com pouca oferta de crédito mas uma demanda reprimida, vinda da melhora da economia, a estimativa é de que boa parte do mercado pode migrar para as fintechs”, completa o sócio-fundador da BizCapital.

O spread corresponde à diferença entre o custo de captação do banco e a taxa de juros ofertadas em empréstimos.

Os últimos dados do BC, por exemplo, apontam que o spread total do sistema financeiro terminou o ano passado em 18,9 pontos percentuais (p.p.). O número corresponde a uma queda de 3,8 p.p. em comparação a dezembro de 2016, quando era 22,7 p.p..

“Flexibilidade Bancária”

De outro lado, a robustez bancária e todos os movimentos dessas grandes instituições vistos no último ano – em fazer parcerias ou adotar ideias semelhante às das fintechs – também prometem acirrar a concorrência no mercado.

Para o professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Walter Franco Lopes, com a boa comunicação que o BC tem mostrado com o mercado, a perspectiva é de que novos players surjam e impulsionem uma “flexibilidade bancária”.

“A circunstância de juros baixos e inflação controlada já traz uma retomada do mercado de crédito, mas como um novo agente no mercado, as fintechs trazem inovação ao setor. Os bancos vão ter que se mexer para acompanhar”, acrescenta o especialista.

O prazo para esse cenário, porém, ainda pode demorar.

Segundo Kalichsztein, ainda que a queda da Selic já aconteça há algum tempo, as mudanças levam tempo para maturar. “Nada é elástico o suficiente para acontecer de uma hora para a outra. De qualquer forma, é benéfico para todo o mercado e poderemos ver um movimento positivo para consumidores e credores neste ano”, conclui o executivo.

https://www.dci.com.br/financas/fintechs-v-o-aproveitar-menor-custo-de-captac-o-para-reforcar-atuac-o-1.682972