Tecnologia

No mundo das fintechs, techfins… e por aí vai

As empresas com plataformas de tecnologia que oferecem serviços financeiros, as fintechs, vieram para ficar. A agilidade nos processos, a praticidade com que realizam as operações e o custo bem mais baixo para o consumidor são condições competitivas diante dos bancos tradicionais. É tudo ainda muito novo, e o que falta a elas é um grau de credibilidade maior por estar relacionada ao cuidado com o dinheiro. Mas tudo parece ser uma questão de tempo para que elas possam mostrar e convencer o usuário sobre as suas vantagens.

Ao fazer um paralelo com outras empresas que empregaram a tecnologia para simplificar os modelos de consumo, é possível afirmar que se trata de um caminho sem volta. Basta verificar experiências bem-sucedidas de uma Netflix para os filmes, de um Uber ou Cabify para o transporte, de uma iTunes ou Spotify para músicas, de um Airbnb para locação de imóveis, ou de uma Amazon para uma infinidade de itens. São sistemas sustentados em plataformas, eliminando intermediários, e oferecendo serviços mais baratos.

Mas de acordo com Leo Monte, cofundador da GR1D e especialista em Economia de Plataforma, Transformação Digital e Inovação, “quando o assunto é finanças, crédito, investimentos ou oferta de seguros, ainda não é possível apontar um nome que tenha vindo para quebrar tudo”. Segundo ele, é possível pensar em serviços muito úteis, que complementam a oferta online dos bancos tradicionais, serviços de pagamento como o PayPal e o brasileiro PagSeguro. Mas iniciativas como o Nubank. Inter, Original e outros bancos digitais ainda não ganharam o mesmo nível de expressão, na opinião dele.

Há alguns fatores que explicam essa demora maior para a expansão das fintechs no setor de finanças, como a que foi constatada em outros setores do varejo, como entretenimento, transporte e locação. Monte explica que o primeiro deles é institucional, porque o mercado financeiro é altamente regulado, o que impõe barreiras de entrada das plataformas de tecnologia. Outro, não menos importante, é cultural. O mercado brasileiro é ainda muito fechado, mas mesmo em mercados mais abertos, como a Índia, que vivencia uma explosão de startups em todas as áreas, a visão mais conservadora na regulação do mercado financeiro também acaba segurando o desenvolvimento mais acelerado das fintechs.

Em sua análise, o especialista pondera que para vingar e se tornar um grande participante do mercado (player), uma fintech terá de se adequar às regulações que restringem as instituições tradicionais. Ao mesmo tempo, com essa exigência, ela poderia se tornar menos interessante, porque ficará mais parecida com os bancos ou serviços financeiros tradicionais.

Para as instituições financeiras no modelo mais antigo pode ser uma vantagem adquirir uma fintech ou se unir a ela, em parcerias que tragam o melhor do que cada uma tem a oferecer. Não à toa, o Itaú adquiriu quase metade da XP Investimentos. Se por um lado essas empresas mais modernas pedem apenas CPF e número de celular para abrir uma conta, aceitar aplicação ou fornecer um cartão de crédito ou empréstimo, de outro, as instituições tradicionais contam com sua carteira de clientes já estabelecida, um nome reconhecido e confiável, experiência com a legislação e outras peculiaridades do mercado financeiro, ressalta ele.

Monte argumenta que não é só o labirinto burocrático que torna o serviço das empresas tradicionais menos atraente para o público. “Essas instituições contam com um pesado sistema legado, porque rodam sistemas em tecnologias ultrapassadas, algumas próximas da obsolescência, mas que ou ainda são úteis ou que demandariam tempo e recursos consideráveis para serem atualizadas ou substituídas”.

Por conta de tudo isso, o executivo afirma que “há duas grandes oportunidades para o futuro do setor financeiro. Uma é o banco online, em que todas as instituições financeiras vão para a internet, e outra são as finanças pela internet, que é feita por agentes de fora do sistema financeiro tradicional”.

Nesse cenário, há que se considerar outros modelos que estão derivando das fintechs originais, são as grandes redes do varejo, como a Alibaba, (empresa chinesa de varejo baseada em e-commerce), que para viabilizar o próprio negócio passou a oferecer na mesma plataforma também os serviços financeiros. Permitindo não apenas o pagamento das compras, mas integrando as contas bancárias, permitindo carregar o celular, e assim por diante. Esse novo modelo já tem um nome, são as techfins.

Uma vez construída a plataforma, é meio caminho andado para acoplar outros serviços, inclusive os financeiros.

Nesse sentido, afirma o consultor, as techfins parecem atraentes para as instituições financeiras tradicionais, ao mesmo tempo que representam certa competição, na medida em que também podem funcionar como grande fonte de distribuição de serviços dos bancos. E o mercado tem visto a confiança do público aumentar em relação ao uso dos serviços financeiros oferecidos por essas techfins.

No Brasil, há espaço para o desenvolvimento desse modelo, dado que mais da metade dos usuários de WhatsApp (53%) gostaria de usar o aplicativo para realizar pagamentos e transferências bancárias. É o que mostra a nova pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box. O número representa aproximadamente 50 milhões de pessoas, de acordo com Monte.

O varejo nacional já vem se movimentando nesse universo das techfins: tanto a plataforma Mercado Livre como a B2W (fusão das Americanas.com com a Submarino.com) já anunciaram linhas de crédito para as empresas que fazem parte de seus shoppings virtuais, ou marketplaces. A B2W também estuda a possibilidade de oferecer financiamento ao consumidor final.

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