Economia

Níveis de inadimplência podem subir em 2019


 

As empresas e os consumidores podem ficar ainda mais endividados neste ano. O reflexo vem da demora na retomada da atividade econômica e da fraca qualidade das últimas vagas criadas. Com a renda e o fluxo de caixa comprometidos, melhora fica para 2020.

O momento de maior otimismo e confiança que trouxe uma alta de 11,6% nas concessões totais de 2018 contra o ano anterior (de R$ 3,308 trilhões para R$ 3,692 trilhões) pode ser o responsável por uma nova onda de inadimplência no País.

De acordo com os últimos dados dos birôs de crédito, apesar do nível de calotes demonstrar uma desaceleração neste ano em comparação a 2018, a falta de uma melhora efetiva no cenário político e econômico doméstico já começa a dar sinais de piora.

Enquanto a Serasa Experian apontou um número recorde de negativados em março (63 milhões) último, os dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram uma alta de 2% em abril contra igual mês de 2018 e o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC Boa Vista), um avanço de 4,8% na variação mensal entre abril e maio.

Segundo o economista do SCPC Boa Vista Vitor França, mesmo com os níveis de inadimplência próximos ao patamar mais baixo da história, o descolamento entre as expectativas e a realidade já começa a gerar preocupação.

“Somos cautelosos nessa avaliação, mas podemos estar próximos de um ponto de inflexão. A alta do crédito foi natural no ambiente de risco menor. Mas a euforia não se confirmou. Isso sobe o risco e pode se refletir em inadimplência mais para frente”, diz.

Ele reitera que grande parte do ambiente “complicado” também vem dos altos índices de desemprego. Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que tal indicador foi a 12,5% no trimestre encerrado em abril, o que responde por 13,2 milhões de pessoas.

Nesse sentido, o educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli destaca que as discussões sobre uma nova liberação do FGTS precisam ser “avaliadas com cautela”. “Muito do cenário atual se deve pela dificuldade das pessoas em cumprir com seus compromissos. E liberar a única reserva dos trabalhadores é um remédio imediatista que terá seu preço lá pra frente, inclusive, com a possibilidade de novas dívidas”, completa o especialista.

Cenário corporativo

Para pessoas jurídicas, o cenário não é diferente. Segundo o economista da Serasa Experian Luiz Rabi, das 5,7 milhões de companhias negativadas registradas no birô, 94,7% (5,4 milhões) são micro e pequenas empresas. “Elas são as mais vulneráveis e não dá pra imaginar um ambiente diferente enquanto a economia não engatar”, avalia o economista.

Para o professor de economia e finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Tiago Sayão, porém, essa melhora ainda demora de três a seis meses pra se consolidar. “A aprovação da [reforma da] Previdência muda o rumo dos investimentos e da confiança. Mas é só o primeiro passo. O reflexo só vem ao longo de 2020”, conclui.

https://www.dci.com.br/economia/niveis-de-inadimplencia-podem-subir-em-2019-1.809800