Economia

Retomada dos pequenos negócios envolve novos desafios, escreve Carlos Melles

Depois de 1 ano e meio do início das medidas restritivas ocasionadas pela covid-19 e que levaram a sucessivas quedas no faturamento dos pequenos negócios e ao fechamento temporário ou definitivo de inúmeras micro e pequenas empresas, os empreendedores começam a atestar sinais de recuperação. Das 21 atividades que têm sido acompanhadas pelo Sebrae desde o início da crise, 19 já mostram evidentes sinais de recuperação, de acordo com a 12ª edição da Pesquisa de Impacto do Coronavírus nas Micro e Pequenas Empresas, série de levantamentos realizados pela instituição, em parceria com a FGV, desde março de 2020.

Apesar dos complexos e novos desafios que continuam rondando os donos de pequenos negócios no país, a série mostra que as empresas devem retomar o nível de atividade equivalente ao período pré-pandemia até o final do ano. As medidas conjunturais tomadas para a contenção dos danos, tais como o auxílio emergencial, que garantiu a subsistência de milhões de pessoas; as medidas provisórias 936 e 1.045 que possibilitaram a suspensão temporária dos contratos de trabalho e a redução da jornada; além do Pronampe, que garantiu crédito às micro e pequenas empresas, foram fundamentais para a manutenção de empregos e dos negócios.

Entretanto, apesar desse conjunto de indicadores positivos, as pesquisas também revelam que o futuro ainda reserva muitos desafios. Os problemas a serem enfrentados agora são de outra natureza: sai de cena a conjuntura produzida pela covid-19 e entra em pauta a dificuldade estrutural para a aceleração da retomada econômica, um problema histórico do país agravado com a pandemia. A alta da inflação tem pressionado os custos das empresas, que não conseguem repassá-lo aos consumidores. A resposta imediata para o controle da escalada de preços é a alta dos juros, que encarece o preço do crédito para as empresas, que já se encontram fragilizadas financeiramente.

Somado a essa situação, uma sondagem feita pelo Sebrae, também em parceria com a FGV, aponta que 52% dos empresários não têm reserva/poupança financeira para utilizar em seu negócio e impulsionar a retomada. Desse universo, 12% estão com dificuldades de pagar as contas em dia, o que pode ser agravado ainda mais com o aumento da inflação. Já entre os empreendedores com reservas, os recursos disponíveis ajudariam esse grupo a se manter por um trimestre. Em outras palavras, percebemos que o fôlego melhorou em relação ao ano passado, quando os recursos davam para manter a empresa por cerca de dois meses, mas a grande maioria dos empreendedores ainda não está em situação favorável.

Passadas as circunstâncias conjunturais impostas pela pandemia da covid-19, a agenda econômica brasileira precisa avançar nos temas estruturais já bastante conhecidos: acesso ao crédito, inflação e infraestrutura de distribuição para acesso à matéria-prima. Estes são pontos fundamentais, inclusive, para a recomposição do tecido econômico que foi em parte perdido com o fechamento de empresas e o esfacelamento das cadeias de fornecimento. A aprovação de reformas estruturantes que coloquem o país em linha com as práticas internacionais de competitividade e que possibilitem a inserção da economia brasileira na cadeia global de produção são urgentes. Esse conjunto de medidas pode ajudar a dinamizar a economia e beneficiar os pequenos empreendedores que são os maiores empregadores do Brasil.        

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