Economia

Open banking: Dois terços estão dispostos a compartilhar dados em troca de taxas menores

Próximo de completar um ano do início da implementação do open banking no Brasil, que começou no dia 1º de fevereiro de 2021, o projeto de inovação do sistema financeiro criado pelo Banco Central dá sinais que se torna mais palpável para os usuários. Entre aqueles que possuem celular e têm contas em bancos, 65% estão dispostos a compartilhar dados em troca de melhores taxas atreladas a um serviço contratado. É o que indica uma pesquisa, divulgada primeiramente pelo Valor Investe, realizada pela plataforma Quanto, em parceria com a Aster Capital.

A possibilidade de compartilhar os dados com diferentes instituições está em vigor desde o dia 13 de agosto de 2021. Com a permissão do usuário, os bancos escolhidos por ele podem verificar um conjunto de informações e, a partir disso, oferecer produtos e serviços que, talvez, sejam melhores do que aqueles que o cliente teve acesso até então.

A ideia dos bancos conhecerem melhor a vida financeira de seus clientes a partir dos dados cadastrados e das transações está na base do sistema financeiro no Brasil. Ao permitir que o cliente exponha seu histórico de endividamento e adimplência para outros bancos e fintechs, o Banco Central pretende melhorar a concorrência e ampliar a oferta de produtos e serviços adequados para cada pessoa.

Ao ouvir clientes de bancos tradicionais e fintechs, o levantamento verificou que não há diferença entre classes e faixas etárias quando o objetivo é ter acesso a benefícios, como taxas de juros mais adequadas para cada realidade ou uma maior disponibilidade de serviços. Mas a comunicação clara e objetiva sobre os ganhos pessoais ao dar o acesso às informações é decisiva para o compartilhamento dos dados se concretizar, de acordo com a amostra feita com duas mil pessoas.

"Essa preocupação com a contextualização para o usuário deve ser essencial para que o Open Banking tenha no Brasil um impacto ainda maior do que o que vimos em países como Reino Unido e nos Estados Unidos", comenta Victoria Amato, líder da área de negócios da Quanto, uma das empresas que oferece a estrutura que permite a conexão entre um banco A e uma fintech B. A empresa diz que se tornou a primeira instituição a obter as oito certificações de segurança do open banking brasileiro.

O desafio de comunicar as vantagens de se ter produtos específicos para cada realidade se acentua em um cenário em que o Pix se tornou amplamente difundido. Não é incomum a confusão entre quem acha que o Pix é o Open Banking, quando, na verdade, este é apenas mais um serviço — a exemplo de outros — do sistema financeiro "aberto". Mas como o Pix "commoditizou" o acesso a pagamentos e transferência de recursos, os bancos e fintechs têm um trabalho a mais, inclusive, para informar e conquistar os clientes dispostos a compartilhar os dados, diz o relatório.

Satisfação com os serviços também influencia na adesão ao open banking

De acordo com o levantamento, o brasileiro tem hoje, em média, 3,5 contas bancárias, sendo que quase 25% dos entrevistados possuem 5 contas ou mais. O número é semelhante ao já verificado entre a parcela mais jovem da população identificada na mais recente edição do Relatório de Cidadania Financeira, divulgada pelo Banco Central no fim de 2021.

A manutenção de uma conta em um banco ou fintech porque "é de graça" foi apontada por 79% dos entrevistados. Para outros 65%, poder sacar dinheiro é o que faz manter o vínculo com um banco tradicional. Já a busca de serviços diferentes é a razão para 77% terem contas abertas em mais de um banco.

Os resultados indicam que, na disputa pelo nível de "principalidade" (ser a instituição preferida para relacionamento), a satisfação dos clientes e a disponibilidade de serviços são os outros dois fatores decisivos para dar acesso aos dados via open banking.

Segundo o estudo, as fintechs já possuem quase metade da "principalidade" de contas no Brasil. Quase metade dos clientes Nubank utilizam o banco como conta principal, uma das maiores médias do grupo. Na outra ponta, diz a Quanto, PicPay e MercadoPago possuem as menores relações entre Conta principal/Contas abertas.

"Entender 'principalidade' começa a ser ainda mais crucial para as instituições financeiras: se tornar uma conta mais relevante para usuário é, também, rentável para o negócio", cita o relatório.

https://valorinveste.globo.com/produtos/servicos-financeiros/noticia/2022/01/17/dois-tercos-estao-dispostos-a-compartilhar-dados-em-troca-de-taxas-menores.ghtml