Economia

Concessão de crédito deve melhorar no primeiro trimestre do ano que vem

São Paulo - O ambiente de crédito bancário deve melhorar no primeiro trimestre de 2017. A depender de menores taxas de juros, de um recuo nos índices de desemprego e da política cambial, instituições tendem a ser mais flexíveis e conduzir avanço de 5% no mercado.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo DCI, apesar de as altas nos índices de inadimplência e baixa atividade econômica já parecerem "absorvidos pelos bancos", o desenrolar político no segundo semestre será crucial para que as expectativas de crédito se concretizem.

Segundo Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o mercado financeiro já trabalha com um "cenário básico de continuidade do governo nas mãos do presidente interino, Michel Temer", afirma.

"O cenário principal é que a atual política econômica prossiga e aumente a confiança do País. Com índices setoriais demonstrando ajustes e um expressivo número de empresas em recuperação judicial, temos uma grande parte da adaptação da sociedade já feita e solucionada e que, agora, depende do sucesso dessas metas para que os bancos deixem de colocar sua atenção em refinanciamento de dívidas e voltem a emprestar o dinheiro que têm", explica Tingas.

O economista ainda ressalta que já estamos vendo um movimento do sistema bancário para "mitigar os riscos e ajudar o fluxo de caixa", além de "aperfeiçoar a aproximação com os clientes para reajustar as carteiras de crédito".

"Essa fase de desalavancagem de recursos, baixo consumo e inadimplência vai se acomodar ao longo do segundo semestre e se esgotar para que, em um cenário um pouco melhor, volte a crescer no ano que vem", diz Tingas.

No primeiro trimestre deste ano, os cinco principais bancos do País (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander) somaram R$ 28,39 bilhões em despesas com provisões de crédito, um aumento correspondente a 33,6% em relação ao quarto período de 2015 (quando a soma ficou em R$ 21,24 bilhões) e de 43,6% quando comparado aos primeiros três meses do ano passado (R$ 19,77 bilhões).

Para Flavio Calife, economista do Serviço Central de Proteção de Crédito (Boa Vista SCPC), a expectativa é de que os bancos apresentem os balanços do segundo e terceiro trimestres ainda com provisões altas, mas tendem a diminuir até o final do ano.

"É esperado que ainda se veja restritividade no sistema bancário. Com a melhora de algumas variáveis que estão atrapalhando essa receita, a retomada já deve começar - lentamente - até mesmo no final deste ano, o que sinaliza uma possibilidade do mercado de crédito crescer próximo aos 5% em 2017", afirma Calife.

"Além disso, há um ambiente propício para redução da Selic [taxa básica de juros] pelo BC, o que deixa os bancos com menor apetite para investimentos. Com a definição do impeachment e dos juros, os balanços dos bancos também devem se acertar até dezembro", complementa Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Estímulo

Segundo Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), as políticas de câmbio e comércio exterior também estimulariam a recuperação do comércio na atividade econômica.

"Se a política cambial valorizar o real, empresas exportadoras melhorarão o desempenho e o mercado local sofrerá menos com a competitividade de produtos importados. Esse é um estímulo a mais, não só pra atividade, mas também para o andamento da economia em longo prazo", comenta.

Ele ressalta que "os bancos já passaram da fase de estimuladores do comércio" e que esse tipo de financiamento ainda pode demorar a retomar.

"É preciso mudanças significativas na política econômica como um todo, com metas definidas a serem alcançadas a curto, médio e longo prazo. Em questão disso, a retomada mais forte só virá em meados de 2018, porque implica em um Brasil que deixe de ser adolescente e passe a ter a cabeça formada, com economia integrada e sabendo o que quer", conclui Silvio, da Fipecafi.

Isabela Bolzani

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