Economia

Setores devem atrasar retorno da demanda por empréstimos

São Paulo - A preocupação com o cenário político e a falta de uma melhora concreta na economia doméstica devem postergar novas contratações e a tomada de crédito na indústria, comércio e agronegócio.

Segundo o diretor do instituto de economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, apesar de alguns setores já demonstrarem sinais positivos em diversos indicadores, essa melhora é "muito pontual" e baseada "no aumento da confiança" dos empresários no País.

"Isso, porém, dá uma expectativa mais positiva para o segundo semestre. Os indicadores de confiança já mostram alta. A única espera é pela concretização da retomada [econômica]."

Nesse sentido, o momento de espera pela melhora real da economia deve adiar a tomada de crédito para investimentos.

"Se o mercado entender que não há necessidade de cautela na política e que existe algo concreto no que se apoiar, a demanda aumenta. Os setores ainda estão muito sensíveis para apostar alto", comenta Alan Ghani, economista da Saint Paul Escola de Negócios.

Já para o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Fabio Pina, ainda que essa sensibilidade seja superada, o atraso em ociosidade e estoques estão muito atrasados para recuperação do crédito.

"Só voltaremos aos antigos patamares do PIB de consumo em 2022. Ainda é muito difícil fazer previsões para o Brasil. Só vivendo um dia após o outro", diz.

Apesar de as reformas estarem encaminhadas e "mostrarem sinais positivos de que serão efetivadas", a demora de repasse da queda dos juros no crédito bancário é um empecilho.

Mesmo com o recuo significativo da Selic desde outubro de 2016, os juros para pessoas jurídicas continuam altos. Além disso, segundo dados do Banco Central (BC), os financiamentos concedidos para as companhias caiu 28,6% em janeiro na comparação contra dezembro (de R$ 141,3 bilhões para R$ 100,9 bilhões) e 6,7% em relação a igual mês de 2016 (R$ 108,2 bilhões).

A única exceção é agricultura que, já com a performance bastante positiva durante a crise, ainda espera um Plano Safra com juros menores frente a queda da Selic e projeta maior investimento para custeamento de safras e investimentos em maquinários.

"O crédito segue muito escasso e caro para os setores de varejo, serviços e para a indústria como um todo e a demanda só retorna de forma gradativa e a depender da melhora da economia. Apenas a agricultura conseguirá demonstrar melhores resultados", avalia Marcel Solimeo.

"Otimismo Cauteloso"

Ainda de acordo com os especialistas entrevistados pelo DCI, no entanto, a retomada do crédito para o setor industrial é "um caso a parte".

Segundo Felipe Leroy, professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Minas Gerais, a indústria deve demorar para dar sinais de recuperação, principalmente por conta de toda a ociosidade do setor.

"Os sinais são muito tímidos para aumentar a produtividade e mais da metade do volume de investimento para formação industrial já foi migrado para a aplicação especulativa. Isso só vai 'enxugar gelo' no curto prazo", identifica.

"Pode ter leves impactos de melhora na indústria, mas só isso não basta. Primeiro vem a estabilidade da moeda para depois arrumar a casa. E nesse setor, o uso da ociosidade ainda vem primeiro", complementa o professor do Labfin-Provar da Fundação Instituto de Administração (FIA), Nuno Fouto.

Os especialistas dizem, no entanto, que o aumento da confiança deve mostrar números bem melhores a partir de julho.

"O primeiro semestre é de adaptação. De qualquer forma, é um primeiro sinal a ser considerado, mas ainda significa dizer que estamos com o famoso otimismo cauteloso", argumentou o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Gilson Carvalho.

Isabela Bolzani

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