Economia

Queda de juro pede cautela para evitar endividamento



São Paulo - Com a perspectiva de queda contínua nas taxas de juros, cautela e revisão do orçamento serão necessários para evitar "endividamento prematuro". O imediatismo deve ser deixado de lado e a tomada de crédito precisará de novas "manobras" para aguentar até o fim do ano.

Não apenas a taxa básica de juros (Selic) mostrou sua quarta redução seguida para 12,25% do final de fevereiro, como também os bancos começaram a repassar esse movimento às suas próprias taxas na carteira de crédito.

Segundo os últimos dados divulgados pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de juros para pessoas físicas reduziu 0,04 ponto percentual em janeiro deste ano frente dezembro de 2016 (de 8,16% para 8,12%).

Para pessoas jurídicas, a queda foi de 0,02 p.p. (de 4,74% para 4,72%).

De acordo com o diretor executivo de pesquisas e estudos da associação, Miguel de Oliveira, porém, além de muito pontuais, as taxas de juros ainda deverão cair mais significativamente ao longo deste ano, o que implica em um momento de espera para o crédito.

"As condições estão melhorando, mas ainda falta muito para chegar na meta. Nesse meio tempo, o consumidor precisa parar de ser imediatista e rever suas necessidades de gastos com cautela, porque o processo deve baratear", identifica o executivo.

Segundo o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, as projeções do mercado são de que a Selic ainda alcance 9,25% ao final deste ano e chegue aos 9% em 2018.

Segundo o economista e consultor financeiro Fernando Pinho, no entanto, do lado do tomador de crédito as taxas dos bancos não estão caindo na proporção que deveriam e, do lado do investidor, a redução da Selic deve impactar aplicações pós-fixadas na taxa.

"É preciso ter cuidado dos dois lados, porque ainda veremos queda de dois ou três pontos percentuais [dos juros] ao longo do ano e isso vai ser sentido em todos os lugares. Ela não é uma base confiável para o atual momento, por enquanto", comenta.

Nesse cenário, os profissionais entrevistados pelo DCI reforçam tanto a necessidade de uma revisão do orçamento, como também a cautela na hora de tomada de crédito ou investimento de recursos.

"Se nenhuma das duas coisas forem necessárias agora, o prudente é esperar até o final do ano ou o começo de 2018 para tomar uma decisão. As taxas ainda vão cair muito, e tomar uma decisão agora precisa de uma análise orçamentária", analisa Vitor Hernandes, sócio do site Jornada do Dinheiro.

Um passo de cada vez

A ideia, segundo os especialistas, é que se coloque na ponta do lápis todos os gastos e rendas durante um período de três meses, para que se chegue na conclusão de quanto se é possível investir ou, no outro caso, de quanto dinheiro seria necessário em caso de um empréstimo urgente.

"A primeira coisa é dar uma reorganizada no orçamento. Algumas famílias já chegaram ao ponto máximo de corte, mas outras sequer entendem exatamente para onde vai o dinheiro", diz Pinho.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Educadores Financeiros (Abefin) e da Dsop Educação Financeira, Reinaldo Domingos, o dinheiro precisa ser "carimbado". "É preciso alocar o recurso para um fim, seja nos investimentos ou seja nos gastos da família. Se não tiver carimbado, o dinheiro é de ninguém", pontua o educador financeiro.

Segundo Domingos, o segundo passo, após o diagnóstico do orçamento pessoal, é decidir se a necessidade é de um investimento ou de um financiamento. Ele afirma que, no caso de investimentos, entender um pouco do mercado de capitais é importante.

"Quem já tem dinheiro investido precisa de atenção redobrada na queda da Selic. Agora, para quem vai aplicar, as pré-fixadas ainda devem ser um bom negócio, além do mix de investimentos", avalia.

No caso de empréstimo, no entanto, todos os especialistas apontam cuidado na "ilusão" que as quedas das taxas de juros podem oferecer no atual momento da economia.

Segundo Hernandes, para quem "precisa de crédito de qualquer jeito", a saída é pesquisar bem todas as instituições e ofertas. "Um consignado ou crédito direto ao consumidor costumam ser mais baratos e é boa para quem está endividado e precisa de recursos", explica.

Para Fernando Pinho, nessa situação, outro ponto importante é avaliar as formas de pagamento do empréstimo , "incluindo os prazos e a conta de quanto fica no final, ao somar as taxas de juros da linha"

"O momento ainda é de incerteza futura e as chances de alguém que já está endividado não conseguir pagar o financiamento, seja por falta de renda, desemprego ou simples cautela, é muito grande", completa o economista.

Segundo Oliveira, da Anefac, caso não seja urgente, "o momento é de espera".

"As taxas de juros vão cair mais e, se a dificuldade no orçamento ainda existe, mas pode ser segurada até o final do ano, o ideal é cautela e espera. Por mais que se queira um empréstimo, o momento é de conservadorismo", conclui o diretor da associação.

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas-pessoais/queda-de-juro-pede-cautela-para-evitar-endividamento-id614474.html