Economia

Bancos devem subir garantia e cortar juro

São Paulo - Os grandes bancos devem baratear o crédito para as grandes empresas ante a alta nos custos com a nova Taxa de Longo Prazo (TLP). A tentativa é de "segurar operações" diante de tendência de migração desses negócios para novas opções de captação.

Com a nova TLP, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá, em cinco anos, uma taxa "independente" e sem subsídios, com preços bem próximos aos praticados pelo mercado.

De acordo com o professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) George Sales, como a TLP deve ficar acima da atual taxa praticada, a perspectiva é que as grandes empresas busquem alternativas.

"Esses negócios olharão para outras formas de captação. Quem tiver capacidade de emitir de títulos e valores mobiliários vai migrar, por exemplo, já que os grandes valores compensariam o custo estrutural de colocar esses papéis no mercado", explica.

Responsáveis pelos maiores volumes de crédito entre pessoas jurídicas, no entanto, a perda seria bastante sentida no lucro dos bancos, os quais teriam que compensar esse prejuízo com empréstimos para consumo ou às pequenas e médias empresas.

Para o professor de estratégia financeira do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP) Paulo Azevedo, a expectativa é que os bancos impulsionem o financiamento aos bons pagadores para tentar "segurar operações e compensar perdas".

"O primeiro movimento será o de diminuir as taxas e se cercar de garantias em operações de grandes negócios para baratear o custo do capital e ganhar preferência ante o crédito do BNDES", diz o especialista.

Ele reforça, ainda que o crédito ao consumo e às pequenas e médias também pode ser uma saída. "Apesar do risco, a alocação dos recursos para os negócios de menor porte também dá ganho na margem. Enquanto antes o estímulo era para aplicações, a TLP pode trazer novos impulsos para financiamentos", completa.

Spreads menores

Da outra ponta, os especialistas consultados pelo DCI ponderam o lado positivo que a pressão por juros mais baixos dentre os bancos pode trazer.

"Quem procura por taxas menores é porque tem intenção de pagar e é atrás do bom pagador que o banco vai. Será questão de competitividade. O banco baixa o spread, pontualmente, nesses casos e melhora a carteira", afirma Sales.

"O movimento, no entanto, será gradativo. A TLP ainda demora cinco anos para ser completamente implementada e, apesar do impacto no curto prazo, ainda não dá para saber o quão grande isso será e nem por quanto tempo se alongará", contrapõe Azevedo.

Ao mesmo tempo, o atual ambiente ainda difícil, pode trazer aversão ao risco e demora na resposta desse processo.

"A retomada virá da oferta, mas é preciso mudar a dinâmica da política monetária. O crédito tem potencial para crescer em 2018, mas em meio às reformas e cenário político, fica pouco espaço para esse crescimento" conclui Roberto Luiz Troster, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP).

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/bancos-devem-subir-garantia-e-cortar-juro-id651871.html