Economia

O BC trata com cautela a melhora do crédito

Tanto os saldos como as concessões de crédito às famílias cresceram em dezembro de 2017, mas o Banco Central tratou a recuperação com cautela, esperando os números do início de 2018 para avaliar com acurácia as tendências. O cuidado tem a ver com a natureza atípica dos empréstimos do último mês do ano, caracterizado por maior demanda do consumidor, mas também por renegociações de crédito. Por exemplo, ao receber o saldo do 13.º salário, trabalhadores quitam dívidas caras e contratam dívidas com juros menores, o que ajuda a inflar as concessões de crédito. Operações de desconto de duplicatas para empresas cresceram 31,5%.

Feitas as ressalvas, os dados de dezembro foram muito positivos. O saldo total das operações atingiu R$ 3,086 trilhões e cresceu 0,7% em relação a novembro, passando de 46,9% para 47,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O estoque de crédito das pessoas físicas aumentou 0,5%, alcançando R$ 1,649 trilhão, e o das pessoas jurídicas evoluiu 0,9%, chegando a R$ 1,437 trilhão.

As concessões de crédito para as famílias cresceram 8,4% entre 2016 e 2017. No mesmo período houve queda de 7% nas concessões de crédito para as empresas, o que se deve, acima de tudo, à redução de 3,1% das concessões de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O saldo de empréstimos do BNDES caiu de R$ 552,3 bilhões em 2016 para R$ 487,3 bilhões em 2017.

Apesar do recuo do crédito direcionado, a começar do originário do BNDES, não se pode falar em escassez expressiva de recursos. Muitas companhias estão fazendo emissões de títulos para colocação no mercado global. Só em parte se trata de papéis emitidos por bancos, que usarão os recursos para crédito interno, engordando as estatísticas do BC.

Há uma lenta mudança nas fontes do crédito, com a queda dos saldos de empréstimos das instituições financeiras públicas (-3,3% entre 2016 e 2017) e crescimento dos saldos dos bancos privados nacionais (+1,3%) e estrangeiros (+6,2%). O peso dos bancos públicos no crédito caiu de 55,7% em 2016 para 54,2% em 2017.

A queda dos juros ativos entre 2017 e 2018 foi expressiva, mas inferior ao recuo do juro básico. Os juros continuam altos o bastante para desestimular o crédito, adiando uma retomada vigorosa da economia.

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