Economia

Crédito reforça trajetória de expansão

As condições gerais de crédito na economia voltaram a melhorar em julho, mês em que o Banco Central (BC) começou a indicar com mais força a retomada dos cortes dos juros básicos da economia. No último dia do mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu a Selic de 6,5% para 6%, a primeira queda em mais de 16 meses.

Dados divulgados ontem pelo BC mostram, por exemplo, que as concessões de empréstimos com recursos livres para pessoas físicas voltaram a crescer em julho. As concessões totais dessazonalizadas, incluindo crédito livre e direcionado, cresceram 1,77% em julho ante junho. Quando é considerado apenas o crédito livre, que é mais sensível a variações na taxa básica de juros, a alta foi de 2,02%.

O crédito livre a pessoas físicas mostra um maior dinamismo, com uma alta de 3,28% em julho, sempre comparando dados de concessão dessazonalizados de julho ante junho. O crescimento do crédito livre a pessoas jurídicas foi de 1,44% no período.

"Esses dados parecem dar suporte à continuidade do crescimento do crédito", diz o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

"Os números relativos aos empréstimos bancários mostram, de maneira geral, que as condições de crédito se fortaleceram em julho", diz Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, em relatório divulgado ontem. Ele destaca não só o crescimento do crédito livre para pessoas físicas, mas também a queda das taxas de juros para esse grupo.

Entre junho e julho, a taxa de juros média com recursos livres caiu de 38,3% ao ano para 38% ao ano. No caso das pessoas físicas, houve recuo de 53,2% para 52,2%. Já a taxa cobrada das pessoas jurídicas seguiu caminho oposto e passou de 18,7% para 19,2%.

Apesar do recuo nos juros, os bancos ainda não repassaram totalmente aos clientes a queda nos seus custos de captação provocada pela perspectiva de corte nos juros pelo BC. Os custos médios de captação caíram de 7,4% ao ano em maio para 6,8% ao ano em junho, e voltaram a cair em julho, para 6,4%. Mas o spread bancário subiu de 31,1 pontos percentuais para 31,5 pontos entre maio e junho, e depois para 31,6 pontos em julho.

"O bom desempenho do saldo e das concessões, principalmente para pessoa física, ainda contrasta com a persistência dos spreads em patamar elevado", diz a 4E Consultoria em relatório.

No total, o saldo das operações de crédito do sistema financeiro teve queda de 0,2% no mês passado, atingindo R$ 3,219 trilhões. Mas o recuo foi causado, sobretudo, por fatores sazonais de início de trimestre, ligados a quitação pelas empresas de linhas de descontos de duplicatas e recebíveis e antecipação de faturas de cartão. Esses fatores limitaram a expansão do crédito livre para 0,1%. Já o crédito direcionado caiu 0,5%.

"Há uma trajetória de redução [do crédito direcionado], é um fator mais permanente", diz Rocha. Essa redução é fruto principalmente do encolhimento dos bancos públicos e da alta das taxas cobradas por essas instituições, mais notadamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As estatísticas do setor bancário, no entanto, revelam uma fotografia apenas parcial do mercado de crédito, na medida em que as grandes empresas estão levantando mais recursos no mercado de capitais. O crédito ampliado ao setor não financeiro, uma medida mais abrangente do que as operações de crédito do sistema bancário, mostra crescimento de 1,1% do saldo de títulos de dívida em julho. O destaque fica para a emissão de títulos privados, que teve alta de 3,9%. Já os instrumentos securitizados tiveram expansão de 2,6%.

Na comparação com julho do ano passado, o crescimento dos títulos de dívida foi de 11%. A taxa Selic mais baixa torna essa espécie de título mais atraente para o investidor e, consequentemente, uma fonte de financiamento para as companhias.

https://www.sinfacsp.com.br/noticia/credito-reforca-trajetoria-de-expansao-valor-economico