Economia

Sistema de pagamento instantâneo é negativo para bancos, avalia Moody’s

O sistema de pagamentos instantâneos PIX, cuja marca foi divulgada nesta semana pelo Banco Central, é negativo para os ratings dos bancos brasileiros, que podem ter uma perda significativa de receitas de tarifas, cobradas sobre saques e pagamentos com cartões, avalia a Moody’s. O sistema será obrigatório para bancos com mais de 500 mil contas e deve entrar em vigor em novembro.

Considerando um volume de pagamentos com cartões de R$ 1,5 trilhão por ano e uma "take rate" - o total de tarifas cobradas dividido pelo volume de pagamentos - média de 2,2%, a Moody’s aponta que, se entre 10% e 15% desse volume for perdido para o PIX, os bancos perderiam R$ 4,3 bilhões em receita.

No pior cenário elaborado pela agência, em que o volume de pagamentos perdido para o PIX é de 30% e os bancos não cobram taxa sobre as transferências com o novo sistema, a perda de receita é de R$ 9,9 bilhões. No melhor cenário, quando a perda de volume é de pouco mais de 5% e os bancos cobram uma taxa de 1,0%, a perda de receita é de R$ 1,2 bilhão.

“Os grandes bancos não publicam de forma uniforme suas tarifas para vários tipos de processamento de pagamento. [...] Quanto maior for o uso do PIX, em detrimento dos sistemas tradicionais de pagamento, maior será a perda de receita”, diz a Moody’s.

A agência aponta que atualmente os bancos cobram por uma série de serviços que podem ser afetados pelo PIX, como saques, pagamentos de boletos, transferências, as tarifas cobradas dos comerciantes em compras com cartões, aluguel e venda de maquininhas, antecipação de recebíveis e a anuidade do cartão cobrada dos clientes.

“A alternativa de pagamento digital com o PIX, que é mais barata e rápida, vai torná-lo um competidor direto para os sistemas de pagamentos existentes, incluindo transferências via TED e cartões de débito e crédito”, diz o relatório.

Embora os bancos possam cobrar uma tarifa pelo uso do PIX, a agência acredita que as pressões competitivas vão fazer com que essas taxas sejam menores do que a média nos sistemas atuais.

A Moody’s lembra que vários bancos já desenvolveram sistemas de pagamentos instantâneos, mas que geralmente são usados apenas por quem já é cliente e a taxa cobrada sobre as transações fica em torno de 1%.

O relatório explica que o PIX faz parte da agenda de desenvolvimento e inclusão financeira do BC e está em linha com os esforços para aumentar a digitalização e eficiência na transferência de dinheiro e em pagamentos. Assim, ele deve reduzir o uso de dinheiro em espécie, o que por sua vez vai diminuir os gastos dos bancos com transporte e segurança. A Moody’s não faz uma estimativa de quanto seria essa economia. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estima que os bancos gastam quase R$ 10 bilhões por ano com isso.

“Entretanto, o PIX surge em um momento em que o ambiente de taxas de juros baixas e maior competição testam o poder de precificação dos bancos e sua rentabilidade. A intensa competição entre as adquirentes tem reduzido as taxas de desconto [cobradas dos lojistas] e os juros sobre antecipação de recebíveis, apesar do crescimento nos volumes de pagamentos."

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/02/21/sistema-de-pagamento-instantaneo-e-negativo-para-bancos-avalia-moodys.ghtml