Economia

Quais são as tendências para o crédito em 2024?

*Ronaldo Oliveira é fundador e CEO da Giro.Tech

Olhando para 2024 e reconhecendo o avanço da tecnologia para a superação de obstáculos marcantes no sistema de crédito brasileiro, processo o qual, vale mencionar, tem sido gradualmente alavancado nos últimos anos, é possível projetar um ano marcado pela consolidação de tendências anteriores e pelo aquecimento de novas possibilidades para ferramentas digitais. Tudo isso, claro, dentro de um plano de fundo de ‘fintechzação’ personificado por soluções desenvolvidas para reformular operações e estruturas de crédito, de modo a oferecer um novo olhar à abordagem tradicional.

Não por acaso, outros fenômenos recentes têm demonstrado, com resultados reais e exemplos práticos, a importância de pensarmos em um cenário de crédito mais flexível, como é o caso da bancarização de empresas não financeiras. Para instituições financeiras, empresas e consumidores, o momento é inegavelmente propício para a identificação de oportunidades que deixem o campo comum, com dinâmicas que não só impactem a indústria financeira, como pavimentem um caminho de mais autonomia e competitividade no acesso ao crédito. Nesse contexto, alguns temas despontam como quase obrigatórios para a análise.

Estruturas de Crédito Embutido (Embedded Lending)
Créditos embutidos em operações cotidianas, conduzidas entre empresas e pessoas. Resumidamente, essa é a premissa do conceito de Embedded Lending. A fim de solucionar problemas de crédito e entregar uma experiência mais satisfatória ao usuário, com mais controle e menos burocracia, o formato, especialmente no setor varejista, surge como um verdadeiro trunfo para viabilizar a incorporação de ofertas de crédito, facilitando o acesso e oferecendo, aos consumidores, opções de financiamento no próprio ponto de venda.

O Embedded Lending ganha ainda mais força quando a empresa opta em utilizar seu próprio capital para financiar as operações, assim todo o relacionamento e conhecimento sobre o cliente podem ser utilizados tanto na análise de risco, quanto na cobrança. Essa prática destrava o crédito em operações que o banco, que está fora da operação, não consegue fazer um bom julgamento do risco de inadimplência.

Com esse processo simplificado e a experiência otimizada, é plausível projetarmos um impacto amplo sobre a cadeia de crédito no país, em um efeito dominó que passa pelo salto no poder de compra, no impulsionamento das vendas e na própria fidelidade do cliente. Trata-se de mais confiança e facilidade no momento de compra, favorecendo o acesso ao crédito em um país cujo histórico é de entraves para uma parcela significativa da população.

Open Finance para enriquecer análise de clientes
O Open Finance é outro formato bastante disruptivo, e como o termo original sugere, defende a concessão de acesso às informações financeiras do usuário, seguindo à risca um compromisso com o consentimento da Pessoa Física (PF) ou Pessoa Jurídica (PJ). Com a experiência sendo, novamente, palavra-chave na modalidade, todos os dados são compartilhados para gerir confiança e fortalecer o relacionamento entre as partes, atestando pontos como reputação e, principalmente, servindo de parâmetro para novas oportunidades de crédito.

Do ponto de vista de uma empresa que busca entender sua base de clientes, para conceder crédito, as vantagens são numerosas. O Open Finance facilita a consulta e consolida informações relevantes, reduzindo riscos, potencializando a precisão e fomentando referências seguras até mesmo para a precificação de produtos e serviços.

O Open Finance, contando com as melhorias aplicadas pelo Banco Central em 2023, vem para tornar o mercado de concessão de crédito mais justo. Agora, uma empresa que quer assumir a função de financiar seu ecossistema, por exemplo, uma varejista que quer fazer seu próprio crediário, pode ter acesso a toda a vida financeira do seu cliente, basta ele autorizar.

Pix para apoiar concessão e cobrança
Cada vez mais popular, é verdade que o Pix dispensa maiores apresentações. A modalidade de pagamento eletrônico oferecida pelo Banco Central (BC) tem em sua essência a praticidade de proporcionar pagamentos instantâneos a qualquer lugar e a qualquer hora, trazendo eficiência e agilidade ao processo. Porém, seus reflexos não param por aí.

Com vigência para disponibilidade em outubro de 2024, o Pix Automático foi idealizado para substituir o carnê no crediário, criando um sistema de pagamentos recorrentes sem que o usuário, como de costume, tenha de realizar a transação manualmente. Após uma etapa prévia de autorização, os pagamentos são efetuados de maneira automática, sem exigir nenhum tipo de autenticação. Ao usuário, isso significa poupar tempo e evitar atrasos nos pagamentos, bem como outras vantagens importantes, como a redução de erros e inconsistências.

Recebíveis registrados para liberar crédito
Desde junho de 2021, com a iniciativa do Banco Central, mirando reduzir riscos e promover mais transparência, as registradoras (entidades reguladas pelo BC) foram implementadas para receber de credenciadoras e subcredenciadoras todo o fluxo de recebíveis e informações derivadas, na figura, inclusive, das Unidades de Recebíveis (URs), que são ativos com os dados das transações financeiras aplicadas no cartão.

Maximizando o controle da agenda de recebíveis, a mudança abriu o leque de possibilidades para a negociação desses ativos, fornecendo uma visualização abrangente para empresas e organizações comerciais. Assim, é possível diagnosticar melhores oportunidades e condições de negociação dos recebíveis de cartão, com abertura para a contratação de operações de créditos asseguradas pelos ativos registrados.

Em outras palavras, a empresa torna-se capaz de utilizar o ativo como garantia para a liberação de crédito. É mais um escape positivo, que converge com essa agenda de inovação que revolucionou (e continuará revolucionando) o mercado de crédito.

Esse movimento ganhará força em 2024 com o avanço da implantação da Duplicata Escritural, que deve trazer o mesmo mecanismo já em operação com os recebíveis de cartão de crédito, para as duplicatas. Isso significa que qualquer venda que a empresa tenha a receber, se for manifestada pelo comprador, poderá também ser utilizada como garantia em operações de crédito.

Securitizadora de Créditos Financeiros
Com as atualizações aplicadas nas regras para Companhias Securitizadoras pela CVM em 2022, essa estrutura para captação e financiamento de operações de crédito ganhou muito espaço no último ano. Em 2023, tivemos muitas novas operações, validando e consolidando o modelo para o mercado.

Enxergamos um crescimento ainda maior neste ano, principalmente de empresas que querem “pilotar” uma nova operação de crédito usando o próprio capital, para posteriormente captar com terceiros. A companhia securitizadora resolve o mesmo problema que o FIDC, mas é muito mais leve em termos de estrutura, obrigações e custos.

Certamente, outras novidades surgirão em 2024, desafiando o poder de adaptabilidade de quem deseja aproveitar uma mudança generalizada na infraestrutura de crédito do nosso país. A inovação promete e tem feito jus à exigência por mais competitividade de ofertas no setor, e simultaneamente, tem, de fato, cumprido uma função crítica para a democratização do acesso ao crédito no Brasil.

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