Fomento

Já vi esse filme antes!

Os cinco maiores bancos do Brasil concentram quase setenta por cento das operações de crédito, segundo informações do Banco Central (base: 2020).

Muitos atribuem tal fato ao eventual "protecionismo" de instituições governamentais como o próprio Bacen, ou mesmo do Congresso, por meio do "lobby" da Febraban.

Pode até ser.

Mas eu me pergunto porque tais instituições protegeriam somente "umas" e não "outras" casas bancárias.

Poder econômico TODAS sempre tiveram.

Não acredito em concentração bancária "forçada", mas sim numa concentração "natural", que eventualmente tenha acontecido por conta da superioridade técnica que os bancos "sobreviventes" sempre demonstraram, face à concorrência.

Se analisarmos historicamente as trajetórias destes bancos, veremos que todos têm uma característica em comum: mesmo antes do Plano Real, em maior ou menor escala, sempre foram financiadores da atividade produtiva.

Naquele período, aliás, nenhuma instituição financeira precisava financiar a atividade produtiva para ganhar muito dinheiro, pois bastava financiar o governo.

Tão logo a hiperinflação foi debelada, num ritmo alucinante, as instituições financeiras se viram obrigadas a gerar receita via cobrança de tarifas e – antes de tudo –, operações ativas.

Significava "voltar para a prancheta" e reaprender a emprestar dinheiro.

Quase ninguém aguentou.

Segundo o BACEN, somente 40% dos bancos que funcionavam em 1988 sobreviveram até o ano 2000.

Em 2019, os cinco maiores do setor concentravam 81% do mercado bancário comercial.

Uma característica desse movimento pós-Plano Real foi a intensa chegada de bancos estrangeiros ao nosso mercado.

Bancos tradicionais em seus países de origem tentaram concorrer em nosso mercado atípico, com características MUITO particulares.

Invariavelmente, a grande maioria acabou saindo e voltando para sua terra natal, pelos mais variados motivos.

É fato que o maior banco estrangeiro ainda remanescente no país é justamente aquele que comprou a operação de um outro tradicional "emprestador" do mercado nacional, o Banespa. É claro que seu know-how foi herança natural da aquisição.

Vejo no mercado uma preocupação muito grande com a concorrência, em particular as FINTECHS de crédito e as BIGTECHS atuando em mercados atendidos tradicionalmente pelo sistema financeiro ou pelo setor de fomento comercial.

Alguns me diriam que a grande vantagem das FINTECHS e BIGTECHS está, justamente, nas informações que têm dos clientes, por dispor de "ferramentas" muito mais avançadas tecnologicamente para analisar crédito.

Eu não me preocuparia tanto. Pelo menos, não no longo prazo.

Muito mais importante do que ter informações, é saber quais são importantes e quando usá-las.

O Brasil tem particularidades que somente quem conhece os trâmites dos seus diversos mercados e cadeias produtivas pode fornecer crédito com maior probabilidade de retorno.

E para isso não basta somente "ter informações".

Acredito que o "boom" de fintechs e bigtechs de crédito seja um fenômeno irreversível, proporcional ao hoje vivido no campo tecnológico, mas tenho certeza que o mercado vai se "sanear" por si só, justamente como aconteceu com o mercado financeiro como um todo.

Quem vai sobreviver?

Certamente, as empresas capazes de conhecer as particularidades de cada cadeia produtiva de maneira íntima e pessoal, como se fosse um parente próximo, uma profissão específica ou uma pessoa amada.

Equivoca-se, portanto, quem pensa que "jogar todo mundo numa caixinha eletrônica" signifique crescimento perpétuo; ledo engano.

Já vimos esse filme, e o "pêndulo da história" está dando "meia-volta".

Boa sorte! 

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